Quando este texto for publicado, talvez o pico da crise tenha passado em muitos países, ou talvez ainda estejamos vivendo novas etapas da pandemia global. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a epidemia de coronavirus como sendo uma emergência de saúde pública internacional em 30 de janeiro de 2020, e reconheceu o status de pandemia em 11 de março de 2020 quando o mundo contabilizava mais de 118 mil infecções em 114 países e um número superior a 4 mil óbitos. Em 07 de abril de 2020, quando este texto começou a ser escrito, o mundo já contabilizava mais de 1 milhão e 350 mil casos, 209 países e territórios e mais de 75 mil mortes. A escalada sem precedentes da doença levou à decretação de uma série de medidas de distanciamento social, confinamento e controle, que provocaram uma brusca parada da economia mundial. A partir dessa nova situação global, muitos se propuseram a refletir sobre as consequências, enquanto outros buscavam desesperadamente salvar vidas, seja nos hospitais, seja nos laboratórios de pesquisa, num esforço coletivo de encontrar medicamentos eficazes ou o desenvolvimento de vacinas. A pandemia de Covid-19 é evidência concreta de um aumento no risco global para a saúde, conforme as tendências registradas em todo o planeta nos últimos anos a respeito de doenças reemergentes e recém-emergentes (Cliff et al., 2009; Belay et al., 2017). Diante disso, é importante perguntar o que nos fez tão vulneráveis? Primeiramente, precisamos reorientar o olhar da pesquisa para uma abordagem global, de forma a fazer face aos novos desafios em escala global como esta pandemia. Em segundo lugar, tratar no seu conjunto a complexidade das interações enquanto um sistema socioecológico. E terceiro, começar a ancorar as análises de vulnerabilidade a este sistema socioecológico conforme Young et al. (2006). E essa análise de vulnerabilidade deve ser feita articulando as escalas global, regional, nacional e local, de forma a buscar sairmos mais fortalecidos da crise. Neste sentido, considerando as diferentes realidades próximas de nós (Brasil, França e Polônia), bem como os respectivos status e históricos de desenvolvimento social, econômico e político, e a inserção regional em que nos encontramos mergulhados (Mercosul e União Europeia), propomos aqui refletir sobre a emergência da pandemia, a vulnerabilidade de nossa sociedade a essa pandemia, e as reflexões inspiradas por essas análises para entender a construção do mundo após a crise. O quadro referencial de vulnerabilidade tem servido para avaliar como as características de um grupo social e sua situação influencia sua capacidade de antecipar, suportar, resistir e recuperar-se de desastres, enquanto eventos danosos como como terremotos, tsunamis, inundações ou secas extremas (De Silva; Kawasaki, 2018). A escolha do referencial de vulnerabilidade permite assim enquadrar a análise desta pandemia dentro de um quadro sistêmico estruturado, capaz de identificar em que medida nos tornamos mais ou menos vulneráveis em função de nossa exposição ao virus, da sensibilidade de nosso sistema social que nos faz mais ou menos propensos à manifestação das formas graves da doença, e como nosso sistema social está mais ou menos preparado para responder à pandemia, de forma que o desastre possa ser contido. Compreender essa vulnerabilidade dentro do contexto do risco de desastres está prevista na prioridade primeira do Marco de Sendai para Redução do Risco de 111 Desastres 2015-2030 que orienta a Estratégia Internacional para Redução de Desastres das Nações Unidas (UNISDR, 2015). Nesse trabalho, consideramos a vulnerabilidade como sendo o grau em que um sistema, ou parte dele (neste caso, o sistema socioecológico) provavelmente sofrerá danos devido à exposição a um perigo, a um distúrbio ou estresse (Turner et al., 2003). A vulnerabilidade é analisada como função da exposição, sensibilidade e capacidade de resposta (Lindoso, 2013), e que particularmente tem uma face social evidenciada nas catástrofes (Beck, 2006). A exposição corresponde ao grau e duração no qual o sistema entra em contato ou é submetido à perturbação; a sensibilidade está relacionada ao grau em que o sistema é impactado; e capacidade de resposta é a habilidade para se ajustar à perturbação, moderar o dano potencial ou lidar com as consequências das mudanças decorrentes (Adger, 2006; Gallopín, 2006). Para desenvolver a reflexão, propomos abordar alguns temas que nos parecem cruciais para o porvir dessa nova era de incertezas, organizando-as dentro dos componentes da vulnerabilidade: bloqueios de locomoção, confinamento / quarentena enquanto fatores relacionados à exposição; desigualdades sociais, o estado de bem-estar social e a estratégia de imunização coletiva enquanto fatores que nos ajudam a compreender a sensibilidade; e a integração regional e global, democracia e controle, e o papel da ciência como parte da capacidade de resposta. Nós apresentaremos, também, algumas análises de interação entre os aspectos de exposição, sensibilidade e capacidade de resposta, evidenciando as sinergias, e finalmente, apresentamos nossas reflexões sobre o desenvolvimento sustentável e meio ambiente, como tópicos que nos permitem tirar lições para o porvir.
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A pesquisadora responsável por este Projeto Prof. Dra. Luciana Cordeiro de Souza Fernandes foi convidada a participar do CICLO ILP-FAPESP NOVEMBRO 2023 (https://agencia.fapesp.br/brasil-pode-usar-mais-as-aguas-subterraneas-durante-estiagens-e-evitar-crises-hidricas-dizem-cientistas/50347) na Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP) com a participação do Prof. Dr. Ricardo Hirata do IG/USP, coordenador do projeto temático SACRE em execução nestes municípios, que busca definir as áreas vulneráveis dos aquíferos para que a regulamentação dos PLs possa se efetivar; e o Prof. Rodrigo Lilla Manzione da UNESP campus Ourinhos. A transmissão completa pode ser vista em: https://www.youtube.com/live/nfoyxWBJrTc si=zKmej1z3cNdKMarH
O presidente da Câmara Municipal de Bauru, Markinho Souza (MDB), recebeu na última quinta-feira (20/02/25), na sala da Presidência, os professores da Unicamp Luciana Cordeiro e Alexandre Fernandes para a apresentação de uma proposta de legislação sobre o ordenamento territorial municipal voltada à proteção das águas subterrâneas, além de um material didático voltado à educação ambiental. Acesse: https://www.bauru.sp.leg.br/imprensa/noticias/professores-da-unicamp-entregam-minuta-de-lei-para-protecao-das-aguas-subterraneas/